Mil oitocentos e quarenta e sete.
Eu nasci. Ela morreu. Sinto dentro de mim o que um dia esteve dentro de minha mãe, sangue, dor, e, eu ao menos sei grafar meu nome. SOPHIA.
Diz ele: - Eu sou seu pai, e deves tomar como lei as minhas ordens. Não sei se realmente é meu pai, sei q ele tem uma mãe e ela não fala comigo, nem com ele. Não sei se ela o odeia, nem se me odeia, só sei que desde que eu sei que existo, todas as noites ele vem ao lugar onde durmo. E ama-me. A mãe dele? Nada diz, e como sempre, olha. Olhando com seus olhos frios e molhados. Meu homem disse que a mãe dele teve uma doença e não mexe nada. A não ser os olhos.
Desde muito tempo nada crescia nesta casa, a não ser o brinquedinho de papai. Minha barriga agora estava crescendo. –Força, força. Era o que ouvia dele. Doía muito, mas quando olhei nos braços dele, havia um lindo bebe. A certeza é quase absoluta, de que este bebe saiu de mim, só não sei explicar-lhe como.
Não vejo mais aquele bebe, há muito tempo por sinal. Mas o que importa, ganhei um lindo vestido de papai, a mãe dele fechou os olhos e não abriu mais. Então agora vão guardar ela dentro de uma caixinha, que vai ficar embaixo da terra. Aí papai comprou o vestido para eu ir ver guardarem a vovó.
Sabes que passei um bom tempo sem contar minha história, e agora sei o que acontece comigo todas as noites e também sei quem era aquele bebe, e sei que não posso aceitar o que esse homem faz comigo, por isso o fiz.
Quando preparava o jantar dele, olhava para todas aquelas facas reluzentes, e percebi que elas eram pouco profícuas somente ali naquela função. Fui à farmácia e comprei um calmante, dos mais fortes, coloquei a dose necessária na comida dele.
Neste dia, ao horário de todas as noites, nos encontramos, porém o cenário e os papeis estavam trocados. Com a maior das facas que já tinha pego na cozinha, acariciei seu rosto. Aquele rosto que por tantas vezes mostrou-me uma expressão inigualável de prazer intenso, prazer, que ironia! Por mim. Passando a faca por seu pescoço pensei: - Aqui? Não, não era bem ali que queria despejar o meu turbilhão de sentimentos contidos. Era mais embaixo, no meio, bem no meio do peito, onde sentia que ali, embaixo de toda aquela carcaça, pulsava o órgão maior.
Centralizei precisamente o objeto do último ato, fechei meus olhos, e, com a mão fechada em punho, direcionei o golpe ao cabo da faca. E tirei, furei, tirei, furei, tirei, furei, tirei, furei. Tirei.
E pronto. Agora eu dominava, enfim eu estava por cima. Cansada, porém vitoriosa. Senti algo mágico, por saber que agora meu homem foi apenas meu, agora não será de mais ninguém. Apenas meu.
Como uma fera que termina sua caçada dormi, dormi em cima da minha caça. Por sorte, não tenho filhotes para alimentar.
Forte, faz pensar no depois, não algo que queria ler com exatidão, mas que queira imaginar, de depois? Ela será feliz, será atormentada pelos fantasmas na sua cabeça... Exitante o estimulo
ResponderExcluir