Ela estava sentada e nitidamente podia ver que o sol dormia, seu olhar estava enfeitado e seus cabelos desfrutavam liberdade. Em seu copo, café quente que iria lhe aquecer junto à lareira, mas a janela fornecia tanto prazer que não poderia se mover para ferir as lenhas. A noite já se mostrava negra, e suas pernas começavam a demonstrar excitação movendo a angústia do resto de seu corpo.
A janela mostrava a ela as pessoas, pela rua movimentada, todas cinzentas. A casa cheia de almofadas já não parecia confortável, o mundo teria de ser maior! A rua então ganha mais uma protagonista egocêntrica, seu pensamento se espelhava na contradição e era preciso fingir ter equilíbrio, todos que a olhavam colhiam a sensação de confiança que gerava ate mesmo algumas pontas de inveja.
A rua labiríntica que percorreu a levou para um bar luxuoso, lotado de velhos e rapazes esculturais que tocavam, constantemente, suas partes íntimas.
Os olhares se voltaram para a bela moça que chegou a festa fantasia com roupa comum, e foi chicoteada sem ter direito a um gole de conhaque sequer.
Sim, a bela moça queria um corpo com músculos, e podia pagar bem. Chegou perto do dono do bar, que se tornou dependente da clientela rebuscada, e pediu tequila, enquanto sua face naturalmente rosada tentava dizer suas intenções. Um rapaz moreno que teve um dia pouco lucrativo entendeu o olhar da jovem, horas se passaram e, platonicamente, eles se penetravam. O moreno se aproximou tentando oferecer o máximo de seu produto à cliente inquieta.
A moça lânguida mordia constantemente os lábios e levantava os seios, o garoto, então, se aproximou mais. Instintivamente ela tomou a liberdade de tocá-lo, combinando em seguida o preço e o local do desfrute.
Entre as pernas brancas já havia certo derretimento, que definia que tudo seria rápido. A rua estava cheia de becos negros, e uma sombra qualquer se tornou o paraíso dos amantes. Em um beijo de súbito os lábios diziam o quanto podiam devorar, outros beijos vieram e as mãos tinham pressa, até que a senhorita sedenta, empurrou o corpo comprado, fazendo com que ele ficasse estático. Ela só queria tomar as rédeas e foi o que fez, até ser violentamente penetrada e ganhar enfim a ta esperada morte.
Se vestiu, e ainda com a respiração ofegante, pagou o preço combinado. Andou com passos lentos, enquanto o moreno noturno a via partir, os corpos tomaram distância, deixando a visão pouco nítida.
É. A casa continua confortável, são belas as almofadas, os tantos enfeites budistas que continuam decorando os móveis turistas dentro do lar.
Deitou na cama gelada, logo o corpo se acostuma. O corpo agora está em posição fetal todo curvado recebendo o alimento necessário de um cordão construído por lágrimas. Adormeceu mesmo vendo que o quarto já estava claro, e mesmo tendo compromisso deixou que o corpo acordasse à sua hora.
Na sua casa havia uma escada preta que foi retirada de um ferro velho. Ao lado da cama, uma mesinha. Os braços se estendiam para escalar a escada reformada. Subiu os degraus com a carteira de cigarros nas mãos, o ateliê estava quente, repleto do sol das 16 horas.
Os quadros eram coloridos e negros, puros e sujos, enfim, era difícil de ler.
Acendeu o cigarro, ninguém podia imaginar o quanto tal canudo brando era vital, mesmo que tirasse-lhe a existência prematuramente.
Mas, o telefone não parou de tocar, eram muitos os amantes.
Eram especiais, cada um guardado em uma parte poética do corpo.
Ela viver seu carna-val, intensamente de mais
ResponderExcluirNo desenrolar do texto me lembrei da História de Lily Braun
http://letras.terra.com.br/chico-buarque/85821/