Hoje senti vontade de escrever, coisa que eu gosto muito, afinal, eu
trabalho com isso. Mas não é do escrever publicitário que senti falta, senti
falta do escrever livre, sem objetivos, se bem que, enfim, sempre tem um
objetivo. O que quis dizer é sobre um escrever sem pauta ou necessidade de
aprovação.
É que hoje morreu um conhecido da família. Desculpe-me por dar essa
notícia assim tão sem rodeios e eufemismos, mas é sempre assim que ela chega.
Não sei se já escrevi um texto assim tão de coração aberto sobre a morte,
porque na maioria dos outros desse mesmo tema, minha posição nunca é submissa.
Mas sabe o que acontece quando meu coração fica aberto sob a morte? Tenho medo.
Medo. E é claro que eu sabia disso, mas às vezes a gente se esconde, não é? E
com certeza não lerei esse texto antes de publicá-lo - aqui é onde devo pedir
desculpas pelos erros, right? – porque certamente estarei me escondendo.
Não gosto de ir a velórios, fui a um deles, nesses 21 anos de vida. A mãe
de uma amiga faleceu, e quem visse nós duas abraçadas à beira do caixão,
certamente pensaria que era minha mãe quem estava ali repousando.
Voltando ao meu desgosto por velórios, posso dizer que é porque gosto de
manter a lembrança da pessoa ainda com vida, sem parecer muito clichê? Seria
uma boa resposta, até porque, quando é sobre morte, não existem clichês. Não dá
pra ser criativo, ousar, ser inovador com pouca verba e agradar o cliente,
quando é morte, é morte.
Mas sabem de uma coisa, não frequento velórios pelo mesmo motivo que não
escrevo sobre morte. Quero ficar longe o mais longe possível, pra que quando
ela chegar (e ela chega sempre) eu coloque a culpa no elemento surpresa, e
pense que fui pega só porque estava distraída. E eu estarei.