quarta-feira, 23 de julho de 2014

E bate que bate




E bate que bate. Quando é beijo. É beijo. É língua. É cheiro.

E bate que bate. Quando é mão. É peito. É boca. É pau.

Quando é suspiro com suspiro. Quando encaixa o encaixe.

Quando a sua batida bate com a minha.

E bateu. A batida perfeita.

domingo, 23 de junho de 2013



Hoje senti vontade de escrever, coisa que eu gosto muito, afinal, eu trabalho com isso. Mas não é do escrever publicitário que senti falta, senti falta do escrever livre, sem objetivos, se bem que, enfim, sempre tem um objetivo. O que quis dizer é sobre um escrever sem pauta ou necessidade de aprovação.

É que hoje morreu um conhecido da família. Desculpe-me por dar essa notícia assim tão sem rodeios e eufemismos, mas é sempre assim que ela chega. Não sei se já escrevi um texto assim tão de coração aberto sobre a morte, porque na maioria dos outros desse mesmo tema, minha posição nunca é submissa. Mas sabe o que acontece quando meu coração fica aberto sob a morte? Tenho medo. Medo. E é claro que eu sabia disso, mas às vezes a gente se esconde, não é? E com certeza não lerei esse texto antes de publicá-lo - aqui é onde devo pedir desculpas pelos erros, right? – porque certamente estarei me escondendo.

Não gosto de ir a velórios, fui a um deles, nesses 21 anos de vida. A mãe de uma amiga faleceu, e quem visse nós duas abraçadas à beira do caixão, certamente pensaria que era minha mãe quem estava ali repousando.

Voltando ao meu desgosto por velórios, posso dizer que é porque gosto de manter a lembrança da pessoa ainda com vida, sem parecer muito clichê? Seria uma boa resposta, até porque, quando é sobre morte, não existem clichês. Não dá pra ser criativo, ousar, ser inovador com pouca verba e agradar o cliente, quando é morte, é morte.

Mas sabem de uma coisa, não frequento velórios pelo mesmo motivo que não escrevo sobre morte. Quero ficar longe o mais longe possível, pra que quando ela chegar (e ela chega sempre) eu coloque a culpa no elemento surpresa, e pense que fui pega só porque estava distraída. E eu estarei.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Dia de cão

Ontem hoje e amanha, já li tantos contos poéticos cronicas que já são a mesma  Fila nA casa azul da palmeira marcada.
Oh garoto maduro viciado em cafeína, que falta você me faz... Volte e leve-me com você por aquele rio, chega de terceiras margens, hoje valorizo leitos, a favor da correnteza, por favor.
Oh mulher imatura viciada em adrenalina, que falta você me faz... Volte e leve-me com você a pular portões de madrugada para encontros furtivos com o garoto de ébano num motel barato à beira da estrada, que tenha o mesmo sabor, por favor.
Oh fé incontestável viciada em donativos, que falta você me faz... Volte e traga com você as certezas absolutas que um dia tive, que eu não tenha dúvidas, por favor.
Oh futuro incerto ansiosamente aguardado, viciado em sonhos, que falta você me faz... Venha logo e faça com que os acontecimentos de hoje tornem-se passado... Que eu não sinta saudade, por favor!

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Mansão Corpórea

Ela estava sentada e nitidamente podia ver que o sol dormia, seu olhar estava enfeitado e seus cabelos desfrutavam liberdade. Em seu copo, café quente que iria lhe aquecer junto à lareira, mas a janela fornecia tanto prazer que não poderia se mover para ferir as lenhas. A noite já se mostrava negra, e suas pernas começavam a demonstrar excitação movendo a angústia do resto de seu corpo.
A janela mostrava a ela as pessoas, pela rua movimentada, todas cinzentas. A casa cheia de almofadas já não parecia confortável, o mundo teria de ser maior! A rua então ganha mais uma protagonista egocêntrica, seu pensamento se espelhava na contradição e era preciso fingir ter equilíbrio, todos que a olhavam colhiam a sensação de confiança que gerava ate mesmo algumas pontas de inveja.
A rua labiríntica que percorreu a levou para um bar luxuoso, lotado de velhos e rapazes esculturais que tocavam, constantemente, suas partes íntimas.
Os olhares se voltaram para a bela moça que chegou a festa fantasia com roupa comum, e foi chicoteada sem ter direito a um gole de conhaque sequer.
Sim, a bela moça queria um corpo com músculos, e podia pagar bem. Chegou perto do dono do bar, que se tornou dependente da clientela rebuscada, e pediu tequila, enquanto sua face naturalmente rosada tentava dizer suas intenções. Um rapaz moreno que teve um dia pouco lucrativo entendeu o olhar da jovem, horas se passaram e, platonicamente, eles se penetravam. O moreno se aproximou tentando oferecer o máximo de seu produto à cliente inquieta.
A moça lânguida mordia constantemente os lábios e levantava os seios, o garoto, então, se aproximou mais. Instintivamente ela tomou a liberdade de tocá-lo, combinando em seguida o preço e o local do desfrute.
Entre as pernas brancas já havia certo derretimento, que definia que tudo seria rápido. A rua estava cheia de becos negros, e uma sombra qualquer se tornou o paraíso dos amantes. Em um beijo de súbito os lábios diziam o quanto podiam devorar, outros beijos vieram e as mãos tinham pressa, até que a senhorita sedenta, empurrou o corpo comprado, fazendo com que ele ficasse estático. Ela só queria tomar as rédeas e foi o que fez, até ser violentamente penetrada e ganhar enfim a ta esperada morte.
Se vestiu, e ainda com a respiração ofegante, pagou o preço combinado. Andou com passos lentos, enquanto o moreno noturno a via partir, os corpos tomaram distância, deixando a visão pouco nítida.
É. A casa continua confortável, são belas as almofadas, os tantos enfeites budistas que continuam decorando os móveis turistas dentro do lar.
Deitou na cama gelada, logo o corpo se acostuma. O corpo agora está em posição fetal todo curvado recebendo o alimento necessário de um cordão construído por lágrimas. Adormeceu mesmo vendo que o quarto já estava claro, e mesmo tendo compromisso deixou que o corpo acordasse à sua hora.
Na sua casa havia uma escada preta que foi retirada de um ferro velho. Ao lado da cama, uma mesinha. Os braços se estendiam para escalar a escada reformada. Subiu os degraus com a carteira de cigarros nas mãos, o ateliê estava quente, repleto do sol das 16 horas.
Os quadros eram coloridos e negros, puros e sujos, enfim, era difícil de ler.
Acendeu o cigarro, ninguém podia imaginar o quanto tal canudo brando era vital, mesmo que tirasse-lhe a existência prematuramente.
Mas, o telefone não parou de tocar, eram muitos os amantes.
Eram especiais, cada um guardado em uma parte poética do corpo.

domingo, 9 de outubro de 2011

Maturação Pueril

Mil oitocentos e quarenta e sete.
Eu nasci. Ela morreu. Sinto dentro de mim o que um dia esteve dentro de minha mãe, sangue, dor, e, eu ao menos sei grafar meu nome. SOPHIA.
Diz ele: - Eu sou seu pai, e deves tomar como lei as minhas ordens. Não sei se realmente é meu pai, sei q ele tem uma mãe e ela não fala comigo, nem com ele. Não sei se ela o odeia, nem se me odeia, só sei que desde que eu sei que existo, todas as noites ele vem ao lugar onde durmo. E ama-me. A mãe dele? Nada diz, e como sempre, olha. Olhando com seus olhos frios e molhados. Meu homem disse que a mãe dele teve uma doença e não mexe nada. A não ser os olhos.
Desde muito tempo nada crescia nesta casa, a não ser o brinquedinho de papai. Minha barriga agora estava crescendo. –Força, força. Era o que ouvia dele. Doía muito, mas quando olhei nos braços dele, havia um lindo bebe. A certeza é quase absoluta, de que este bebe saiu de mim, só não sei explicar-lhe como.
Não vejo mais aquele bebe, há muito tempo por sinal. Mas o que importa, ganhei um lindo vestido de papai, a mãe dele fechou os olhos e não abriu mais. Então agora vão guardar ela dentro de uma caixinha, que vai ficar embaixo da terra. Aí papai comprou o vestido para eu ir ver guardarem a vovó.
Sabes que passei um bom tempo sem contar minha história, e agora sei o que acontece comigo todas as noites e também sei quem era aquele bebe, e sei que não posso aceitar o que esse homem faz comigo, por isso o fiz.
Quando preparava o jantar dele, olhava para todas aquelas facas reluzentes, e percebi que elas eram pouco profícuas somente ali naquela função. Fui à farmácia e comprei um calmante, dos mais fortes, coloquei a dose necessária na comida dele.
Neste dia, ao horário de todas as noites, nos encontramos, porém o cenário e os papeis estavam trocados. Com a maior das facas que já tinha pego na cozinha, acariciei seu rosto. Aquele rosto que por tantas vezes mostrou-me uma expressão inigualável de prazer intenso, prazer, que ironia! Por mim. Passando a faca por seu pescoço pensei: - Aqui? Não, não era bem ali que queria despejar o meu turbilhão de sentimentos contidos. Era mais embaixo, no meio, bem no meio do peito, onde sentia que ali, embaixo de toda aquela carcaça, pulsava o órgão maior.
Centralizei precisamente o objeto do último ato, fechei meus olhos, e, com a mão fechada em punho, direcionei o golpe ao cabo da faca. E tirei, furei, tirei, furei, tirei, furei, tirei, furei. Tirei.
E pronto. Agora eu dominava, enfim eu estava por cima. Cansada, porém vitoriosa. Senti algo mágico, por saber que agora meu homem foi apenas meu, agora não será de mais ninguém. Apenas meu.
Como uma fera que termina sua caçada dormi, dormi em cima da minha caça. Por sorte, não tenho filhotes para alimentar.